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Gregório José

BRASIL TEM 14 MILHÕES DE INFLUENCIADORES SEGUNDO PESQUISA

Sáb, 19 Abril de 2025 | Fonte: Gregório José


Antes de se influenciar é preciso moderar. O Brasil hoje tem cerca de 14 milhões de influenciadores digitais. Sim, você não leu errado. Quatorze milhões de pessoas que se apresentam como referências, como modelos de comportamento, como especialistas em tudo — do skincare ao geopoder russo — numa velocidade proporcional à da superficialidade que os define.

Vivemos a era do conteúdo raso com estética refinada. Da opinião ligeira com filtro. Do "bom dia, meus amores" dito por alguém que mal acordou e já está mirando o engajamento. Em outras palavras, o vazio virou produto de prateleira. Bonito, editado, embalado a vácuo — e vendido em parcelas de quinze segundos.

O Censo de Criadores de Conteúdo do Brasil 2025, divulgado recentemente, nos mostra que somos um país onde qualquer espelho virou estúdio, qualquer frase com eco virou filosofia, qualquer dancinha ensaiada virou performance com propósito. É a democratização da irrelevância. O povo, já calejado pela pobreza educacional e cultural, agora é submetido a um novo tipo de miséria: a miséria do pensamento.

E o mais assustador: essa engrenagem não gira sozinha. O sistema alimenta. O mercado patrocina. As marcas aplaudem. A audiência consome. Afinal, é mais fácil seguir quem nos distrai do que encarar quem nos desafia.

A Creator Economy promete dobrar de tamanho até 2027, saltando de US$ 250 bilhões para US$ 480 bilhões. A pergunta é: em que estamos investindo? Em quem estamos nos espelhando? O sucesso hoje é mais sobre a capacidade de se mostrar do que sobre a competência de ser algo. Não importa o conteúdo. Importa a frequência. Não importa o argumento. Importa o alcance.

O influenciador do momento não precisa de ideias, precisa de “stories”. Não precisa de conteúdo, precisa de relevância de ocasião. Fala de tudo, com autoridade de quem nunca estudou nada. E, pior: forma opinião. Sobre política, saúde, comportamento, religião, ética. A voz de quem nunca leu um livro agora ecoa mais do que a de quem dedicou a vida à busca do saber.

E o resultado está aí: uma geração que conhece todos os filtros, mas nenhuma verdade. Que adora os termos "criar conexões", "influência autêntica", "engajamento com propósito", mas que não é capaz de sustentar uma conversa sem recorrer a gírias pasteurizadas ou frases feitas.

Os influenciadores não são o problema em si. O problema é a banalização do conceito. A ausência de critério. O culto ao “seguido” e o desprezo pelo sábio. É como se dissessem: “não pense, consuma”. E a maioria, infelizmente, obedece.

Mas há solução. Há sempre. Ela começa com educação, senso crítico, leitura, cultura. Começa quando paramos de aceitar o entretenimento como única forma de existir nas redes. Quando ensinarmos nossas crianças que a vida não precisa caber em um vídeo vertical com trilha sonora, mas que pode (e deve) ser vivida com profundidade, contradição, silêncio e verdade.

No fim, a influência verdadeira continua sendo aquela que nos melhora. Que nos faz pensar. Que nos cala para nos provocar. E que não depende de um ring light para brilhar.

Correio de Corumbá

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