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A QUIDIDADE DA NAVEGAÇÃO CORUMBAENSE

Dom, 21 Maio de 2023 | Fonte: Rosildo Barcellos


É indispensável asseverar que o Rio Paraguai, (trecho) Corumbá a Porto Murtinho, no extremo sudoeste de Mato Grosso do Sul, foi a quididade dos grandes conflitos envolvendo portugueses, espanhóis e os povos originários, até o final da Guerra da Triplice Aliança (1864-1870). Ao percorrer seus 526 quilômetros, pelo caminho se encontram testemunhos destas disputas, como as fortificações, e uma comunidade que ainda mantém crenças e lendas, personificando heróis e celebrando o milagre da sobrevivência. Assim Porto Esperança por muitos anos foi  o ponto final do tronco da NOB. Do Carandazal a Porto Esperança eram cerca de 38 km e quando chegava-se a estação, tomava-se o vapor para subir o Rio Paraguai, para chegar-se a Corumbá e posteriormente Cuiabá. No caso da Cidade Branca eram cerca de 79 quilômetros num tempo de percurso de 14 horas, hoje realizado em cerca de uma hora pela BR 262. A QUIDIDADE DA NAVEGAÇÃO CORUMBAENSE

Nos idos de 1947 o barco que fazia essa ligação era o famoso Fernandes Vieira, uma canhoneira adaptada para o transporte de passageiros. Em 1952 quando foi aberta a linha Carandazal/Corumbá, para chegar a Porto Esperança passou a ter de se utilizar de outro trem, numa linha de 4 quilômetros que saia de Agente Inocêncio. Naquela época os navios chegavam até Porto Barranqueira na Argentina. É o que retrata a  letra da música “Tempos da esperança” do indefectível Moacir Saturnino de Lacerda: “ O rio levando minhas lembranças para o mar / Algumas gotas sei que em chuvas voltarão / Para regar novos sonhos de criança / Fazer brotar novas canções no coração. / O Trem que chega traz notícia e alegria / Ao seu apito, o Porto afasta a solidão.”

Mas lembrar de Moacir Lacerda não faz sentido se não recordarmos seu irmão Chico Lacerda que observando a decadência e sucateamento da NOB, consubstanciando o abandono dos ribeirinhos daquela região pantaneira, o Poeta de Albuquerque, Chico Lacerda salpicou estes melancólicos versos: “A água veio e levou / Porto Esperança ficou / Sem esperança de amor. / A água veio e levou / As penas do papagaio / As histórias de Armandia / Levou na última cheia”.

Existia uma simbiose entre Porto Esperança e a NOB no que tange a uma convivência eficaz e harmônica com as cheias cíclicas do Pantanal, fato eternizado na música Ciranda Pantaneira que “a folha que a água leva, leva o bem e leva o mal”. Mormente, durante os meses de cheias, quando as singelas residências e palafitas de Porto Esperança ficavam parcialmente submersas, os moradores ribeirinhos se mudavam para os vagões cedidos pela NOB, e assim ficavam abrigados provisóriamente até que as águas baixassem ao leito natural do rio Paraguai. E se restabelecesse a ordem natural das coisas. O distrito da Manga, por sua vez foi importante porto de transbordo de gado. Guarda uma das relíquias dos tempos de apogeu de Corumbá e a chegada do telégrafo naqueles confins de 1900. 

Estes detalhes, vieram a mente, pois recentemente encontrei o compositor Moacir Lacerda no lançamento do “Best Seller” Estrela do Ócio, livro de 142 páginas  impregnado do lirismo encantador de  Carmem Eugênio. Por derradeiro, Moacir Lacerda é uma enciclopédia ambulante do Pantanal e agora aliado a Mara Calvis, uma incansável educadora ambiental, autora de diversos livros, que lançam a quatro mãos no dia 26 do corrente, em Corumbá o “Vapor Fernandão” Navio Fernandes Vieira (Histórias e Memórias). “Fernando Vieira”, também é titulo de uma canção do GRUPO ACABA, integrante do álbum A Última Cheia,de 1984.  Certamente “Vapor Fernandão”; é para ser livro de cabeceira. Imperdível.
*Articulista
 

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