Ahmad Schabib Hany
MAIS LUTA QUE FLORES E LUTO
Qua, 12 Março de 2025 | Fonte: Ahmad Schabib Hany
Este Dia Internacional das Mulheres, em que as mesmas se sentem, no mínimo, acuadas pelos feminicidas, negacionistas, fascistas e conservadores de todas as laias, tem a determinação de que, mais que flores e luto, é preciso lutar, lutar, lutar e lutar.
Humilde e amadoramente, nossas poucas colaboradoras no Clarim Estudantil, no Centro Educacional Julia Gonçalves Passarinho, ousadas e criativas -- como as queridas Giselle, Maria, Rosa, Daniela e Mari (por favor, não peçam os seus sobrenomes, porque depois se mudaram daqui e perdemos o contato, só tendo notícias esporadicamente por meio de parentes e Amigos) --, nos explicitavam o significado daquela guinada progressista: na época, a expressão era ‘emancipação feminina’. E foi, como constatado pela história recente, o que incomodou sobremaneira conservadores de todas as laias, sejam religiosas, ideológicas e, sobretudo, comportamentais.
Sou da geração que, aos 16 anos, acompanhou a realização da Conferência Mundial da Mulher, no México, em 1975. Sem internet nem fax, acompanhamos tudo pelos telegramas de agências de notícias progressistas, como a Inter Press Service, Prensa Latina e a Agence France Presse. Esta última por meio da Folha da Tarde, de Corumbá, e da Rádio Difusora Mato-grossense S/A, a Pioneira. Então ‘progressista’, a Folha de S.Paulo cobriu de forma exemplar o conclave feminista no México, tendo feito uma sessão chamada NovaMulher inserida na Folha Ilustrada, editada pela saudosa Jornalista Irede A. Cardoso, mais tarde vereadora pelo PT e PMDB, tendo como colaboradoras a saudosa Heloneida Studart, ligada ao velho PCB e com longa carreira parlamentar no PMDB e depois PT, e a recém-eternizada escritora e Jornalista Marina Colasanti, além da incansável produtora e Jornalista Martha Alencar, que também participou de O Pasquim e do Folhetim.
Humilde e amadoramente, nossas poucas colaboradoras no Clarim Estudantil, no Centro Educacional Julia Gonçalves Passarinho, ousadas e criativas -- como as queridas Giselle, Maria, Rosa, Daniela e Mari (por favor, não peçam os seus sobrenomes, porque depois se mudaram daqui e perdemos o contato, só tendo notícias esporadicamente por meio de parentes e Amigos) --, nos explicitavam o significado daquela guinada progressista: na época, a expressão era ‘emancipação feminina’. E foi, como constatado pela história recente, o que incomodou sobremaneira conservadores de todas as laias, sejam religiosas, ideológicas e, sobretudo, comportamentais.
Três anos depois, em 1978, quando eu iniciava Letras no então Centro Pedagógico de Corumbá (CPC), da Universidade Estadual de Mato Grosso (UEMT), pela primeira vez era celebrado o Dia Internacional da Mulher com intensa programação naquele centro de vanguarda, jamais melancólico e decadente. A onda conservadora que assola a humanidade tem raízes históricas que instituições de pesquisa comprometidas com a sociedade devem estudar, analisar, compreender e transformar. Óbvio, para isso é preciso ter uma política explícita lastreada nas ciências sociais, e não aquele esquema do ‘cara-crachá’ que teima se impor em instituições sem história de emancipação e vanguarda.
Causa estranheza a falta de empatia das instituições que, em dia emblemático como este, não se manifestem em solidariedade às mulheres vítimas das maiores tragédias atuais, como o feminicídio, que no Brasil mata uma mulher ou adolescente cada dez minutos; o genocídio que matou mais de 12 mil mulheres e mais de 15 mil meninas, deixou mais de 50 mil viúvas, mais de 17 mil órfãs e mais de duas mil mulheres e meninas com deficiências definitivas em Gaza, Palestina; o etnocídio que dizima igualmente no Congo (terra do mártir Patrice Lumumba, assassinado pela CIA em 1961, patrono da Universidade Patrice Lumumba na ex-URSS), além da fome e da desnutrição que tiram a vida de milhões de meninas, jovens e mulheres ao dia no hemisfério sul em todos os continentes. Pois é, naturalizar a tragédia potencializada pelo ódio e pelo liberalismo chega a ser um escárnio a quem se pauta por critérios humanistas, seja na ONU, no mundo do trabalho e, inclusive, na academia.
Há menos de um mês a Jornalista Vanessa Ricarte foi vítima de feminicídio, no entanto, a impressão que dá, ante a falta de empatia geral, é que ocorrera em terras longínquas o seu trágico assassinato, aliás, pivô da desmistificação de órgãos e da rede de proteção social que deveria assegurar a vida das potenciais vítimas de feminicídio e não funciona como devia. É como que houvesse um pacto de silêncio entre o atual gestor estadual e os partidos de vanguarda: tanto uns como outros chamam indevidamente isso de ‘arco de alianças’, o que nunca foi nem será. Isso não passa de um embuste, e precisa ser desmascarado.
No Dia Internacional das Mulheres o que fizeram as instituições locais? Os movimentos populares, ainda que definhados (com a cínica intervenção do pacto de mediocridade entre ‘progressistas e conservadores’), fizeram a sua parte. O Observatório da Cidadania Dom José Alves da Costa, por iniciativa do querido Amigo-Irmão Anísio Guató, dedicou o dia à articulação sobre direitos humanos e saúde, em que a mamografia conquistada pela querida e saudosa Helô Urt e o Centro de Saúde da Mulher foram foco prioritário, além de outras pautas, como a homenagem à Jornalista Vanessa Ricarte, vítima em Campo Grande de feminicídio. O querido Companheiro-Camarada Carlos Aníbal Monzón, do Grupo Argos de Teatro, dedicou o dia à solidariedade às presas políticas do Paraguai Carmen e Laura Villalva e Francisca Andino, encarceradas sem acusação formal e julgamento regular e recentemente levadas para local ignorado e não sabido sem comunicar a defesa.
Como escreveu sobre o dia a Jornalista Letícia Gouveia, analista de audiência de A Pública, não se trata de flores, mas de luta, incessante. Reforçado pela newsletters da Jornalista Tatiana Dias, editora executiva do The Intercept Brasil, citando estudo feito pelo Instituto Reuters em 2023: 58% dos jornalistas são mulheres no Brasil, no entanto em cargos de chefia elas representam 13% da categoria. Tatiana Dias acrescentou que ela passou 20 anos em revistas, mídias digitais e jornais subordinada a homens até chegar a três cargos de chefia naquela mídia alternativa, pelo que diz contrariar as estatísticas. O pior está na remuneração: a diferença salarial entre homens e mulheres é de 5% no geral, mas quando se trata do salário de editor-chefe, a distorção salta à casa de 41%, conforme pesquisa encomendada pela FENAJ (Federação Nacional dos Jornalistas).
Se na terra em que a Jornalista Vanessa Ricarte viveu e empreendeu uma vitoriosa carreira jornalística até ser cruel e covardemente assassinada a realidade das redações é essa, por favor, que pelo menos nas lutas cidadãs, lutas do cotidiano laboral e de resistência contra a cultura patriarcal e misógina, a solidariedade e a empatia das mulheres e homens conscientes sejam efetivas e sinceras, como bem lembrou a querida e incansável Pesquisadora Débora Calheiros nas redes sociais. A torcida é que pelo menos nos próximos dias o movimento de mulheres no coração do Pantanal e da América do Sul se manifeste tempestivamente. A luta contra o fascismo, o feminicídio, o ódio, a intolerância e, sobretudo, a opressão liberal travestida de ‘liberdade sem limites’, passa inexoravelmente por esse front. Sem esquecimento, sem anistia.
E felizmente nos chega agora convite do SINPAF local para sessão de cineclube, a propósito do 8 de Março, no auditório da Embrapa Pantanal. Documentário produzido em 1978 (sob direção de Jorge Bodanzky), Os Mucker mostra a liderança de Jacobina Mentz Maurer, líder de uma comunidade evangélica na então São Leopoldo cujas regras próprias desde os tempos dos avós, na Alemanha, causaram perseguição (motivo da emigração da família para o Brasil, cujo império lhe assegurou liberdade religiosa). Reprimida por forças militares com apoio de vizinhos antagonistas, a líder foi morta, a comunidade dizimada e os poucos remanescentes acabaram vítimas de chacina por preconceito em outra cidade para onde foram removidos à força pelos chefes políticos e militares, pouco antes do massacre de Canudos, com a participação dos mesmos comandantes. Do império para a República, só mudaram as fardas, porque os métodos e a violência permaneceram. Parabéns aos queridos Companheiros Joãozinho, Igor Alexandre e Professor Alberto pela iniciativa!
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