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Cultura

Eleição de Luciene Carvalho quebra antigo tabu no ambiente literário

Poeta que vive em Cuiabá desde adolescência é a primeira negra a presidir uma academia de letras.

Qua, 20 Setembro de 2023 | Fonte: Edson Moraes


Eleição de Luciene Carvalho quebra antigo tabu no ambiente literário
Luciene Carvalho - Foto: Isabela Mercuri

A partir do próximo dia 30, a literatura brasileira escreverá um dos capítulos mais importantes de sua história. Não-apenas por seu ineditismo, mas pela representação cultural, social e política simbolizada concretamente pela primeira mulher afrodescendente a dirigir uma academia de letras, desde que este colegiado existe em suas instâncias nacional e estaduais.
A poeta e escritora Luciene Carvalho, uma corumbaense radicada em Cuiabá desde a adolescência, vai presidir a Academia Mato-Grossense de Letras (AML/MT). Ela é protagonista de um feito singular. Até o sábado, 16, nenhuma escritora negra havia sido eleita para presidir a instituição. Em Mato Grosso, quem dirige a academia é uma mulher, Suely Batista, de ascendência européia. 

Prima do também jornalista e escritor corumbaense Edson Moraes, titular da cadeira 31 da AML/MT, Luciene é uma das mais atuantes poetas, declamadoras e ativistas culturais do País. Gosta de ser citada como poeta universalista e periférica, dedicada à construção poética de tom humanista e inclusivo e aos desafios ambientais, políticos e sociais de seu tempo. Seus trabalhos têm repercussão nacional e internacional.

Eleição de Luciene Carvalho quebra antigo tabu no ambiente literário
Fotos: Karen Malagoli

Segundo Edson Moraes, o papel que Luciene desempenha hoje é de extremo significado para o País. "Eu não vejo a obra e o viver da Luciene com o olhar fixado apenas na poesia ou no seu encanto. Eu vejo a cada leitura um espaço cosmopolizado, o universo e seu povoamento a partir das pessoas e dos seus sonhos, das decepções e das alegrias. E sempre, em cada olhar, vejo uma mulher simples, professora filha de professora, uma negra tentando colorir o mundo com uma aquarela de diversidades que se amam, que se respeitam, que se somam, que vivem de pão e justiça", define.

REFERÊNCIA - Autora de dezenas de livros e presença constante como autora ou referência temática para peças de teatro, documentários e ensaios, sua obra inspirou a produtora Luciana Curvo a realizar o audiovisual "Quem Tem Medo de Luciene Carvalho", em 2019. O documentário vem sendo exibido com frequência pela TV Brasil e em ambientes culturais e de ensino, como as escolas e universidades.

Colecionadora de vários prêmios, é referência para obras culturais. No ano passado, por exemplo, a convite do produtor teatral Gerald Thomas, ela participou da temporada teatral da peça "F.E.T.O. Estudos de Dorotéia Nua Descendo a Escada", em São Paulo. Inspirada em "Dorotéia", de Nelson Rodrigues, a peça tem Luciene entre suas inspirções e figuras centrais. De acordo com os críticos do espetáculo, "a obra da autora foi fundamental na construção do material desenvolvido por Gerald Thomas".  

Eleição de Luciene Carvalho quebra antigo tabu no ambiente literário"MINHA RESPIRAÇÃO" - "Vivo de poesia 24 horas por 24 horas. É minha respiração", diz a poeta. Ela garante que a maior recompensa está no olhar de agradecimento e carinho das pessoas que recebem seu trabalho, especialmente nos espaços periféricos, como os bairros e as áreas ribeirinhas. Livros de Luciene estão presentes em indicadores de excelência, como as provas vestibulares para ingresso nas universidades. 

Entre seus 14 livros, destacam-se: "Dona", "Conta-Gotas, "Sumo da Lascívia", "Aquelarre ou o Livro de Madalena", "Porto", "Cururu e Siriri do Rio Abaixo", "Caderno de Caligrafia", "Teia", "Insânia" e "Ladra de Flores". Para Luciene, o sentido da poesia está no olhar da sensibilidade humana e no papel da cultura como instrumento de construção cidadã. 
"Vivo de poesia 24 horas por 24 horas. É minha respiração", ressalta a poeta. Ela garante que a maior recompensa está no olhar de agradecimento e no carinho das pessoas que recebem seu trabalho, especialmente em espaços periféricos, como os bairros e as áreas ribeirinhas. 

A presidenta da ALM/MT, Suely Batista, vai dar posse a Luciene com a consciência do dever cumprido. Para Luciene, a antecessora exerceu com dignidade e competência as atribuições do cargo. “Foi um grande feito. Em múltiplos sentidos, o que nos confere suporte para voos mais altos”. A sua diretoria tem Flávio Ferreira de vice-presidente e Cristina Campos, secretária. Agnaldo Silva é o tesoureiro. Para o Conselho Editorial foram eleitos Marli Walker, Elizabeth Madureira e Olga Castrillon Mendes. No Conselho Fiscal, Lorenzo Falcão, Marta Cocco e Eduardo Mahon. 

Correio de Corumbá

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